(Review 379) - Bring me their hearts (Bring me their hearts #1)

Zera é uma Sem Coração, o soldado imortal e infeliz de uma bruxa. Amarrada à bruxa Nightsinger desde que a salvou dos bandidos que assassinaram sua família, Zera anseia pela liberdade da floresta em que se escondem. Com o coração em uma jarra sob o controle de Nightsinger, ela serve a bruxa sem questionar.
Até Nightsinger pedir à Zera o coração de um príncipe em troca do seu, com um adendo; se ela for descoberta se infiltrando na corte, Nightsinger destruirá seu coração, em vez de ter que vê-la torturada pelos nobres que odeiam bruxas.
O príncipe herdeiro Lucien d´Malvane odeia a corte real tanto quanto a corte o ama - todos os tutores tem medo de corrigi-lo e as garotas disputam um lugar ao seu sombrio e belo lado. Ninguém pode desafiá-lo, até a chegada de Lady Zera. Ela é deselegante, de língua afiada, despreocupada e quer o sangue dele. A honra do príncipe o faz apontar rapidamente para a garganta dela. 
Assim começa um jogo de gato e rato entreuma garota sem nada a perder e um garoto que tem tudo.
O vencedor leva o coração do perdedor.
Literalmente.

Bring me their hearts  é a primeira parte de uma trilogia de fantasia juvenil com ar medieval que apresenta como protagonista Zera, uma adolescente de 16 anos bem incomum. Zera é uma Heartless, uma Sem Coração. Encontrada à beira da morte por uma bruxa, Nightsinger, Zera foi salva por magia, mas teve o seu coração removido, e agora ela é uma serva da bruxa, vive nos bosques e precisa alimentar sua fome implacável por carne crua.

Zera já não é mais uma humana. Cada vez que ela tentar comer comida humana, a Fome dentro dela parece se rebelar, e a garota chora dolorosas lágrimas de sangue. Além disso, quando a fome de Zera é intensa, seus dentes crescem, transformando-a num temível predador.

Mas o sonho da garota é apenas um: voltar a ser humana, ter seu coração de volta. Mas parece ser um sonho impossível, até que a oportunidade aparece.

O reino de Vetris já viveu em harmonia com as bruxas quando todos seguiam ao Deus Velho. Havia tolerância. Agora, os habitantes se converteram ao culto do Deus Novo e com isso vieram as guerras, a luta contra as bruxas. Os Sem Corações então foram usados como armas letais nesta guerra, lutando como protetores das bruxas e se tornaram temidos e odiados.

Agora uma nova guerra ameaça surgir. Vetris tem líderes implacáveis, movidos pela ganância e pelo fanatismo. O rei Srev  quer vingar a morte de sua filha, a princesa Varia, e o arquiduque Gavik, um dos mais poderosos da cidade, usa o fanatismo e o medo para dominar a guarda e o próprio rei. Só há uma maneira de parar tudo isso. Zera deve ir à Vetris e se apresentar como uma das candidatas à Noiva da Primavera. Se ela for eleita, e conquistar o coração do príncipe Lucien  d`Malvane, ela pode se tornar a própria rainha. Mas Zera não foi enviada até a mansão de Lady Y´Shennria  para ser treinada para se tornar uma rainha. Ela foi enviada para se tornar a isca perfeita. A garota por quem Lucien deverá se apaixonar, confiar o suficiente até que ela possa roubar seu coração. Literalmente.

Se Zera conseguir roubar o coração do príncipe ele se tornará um Sem Coração no lugar dela, e Nightsinger devolverá seu coração para que ela, Peligli e Crav, os outros dois companheiros de cativeiro de Zera, possam voltar a ser humanos e, finalmente, livres.

Eu tinha as expectativas bem altas para esse livro. Eu adorei a idéia de uma protagonista nada donzela, com ares de vilã e assassina. A premissa toda me parecia super original e eu gostei do ambiente meio medieval /  meio conto de fadas que encontrei conforme a leitura avançava. Bring me their hearts cumpriu as expectativas e me deixou inclusive curiosa para ler sua próxima sequência já que a estória, que já começa interessante, foi se tornando muito melhor conforme caminhava para seu final.

Deixe-me falar da protagonista, a Zera. Eu adorei ela. Zera é inteligente, perspicaz, irônica, divertida. Ela não é aquela protagonista sabichona que irrita, ao contrário, a gente torce demais por ela, e seu comportamento, suas reações e maneira de pensar, tudo é muito crível. Zera luta contra sua Fome. A fome que ela sente aqui é quase como uma consciência viva dentro dela, de tão incontrolável, ela escuta a voz desta Fome e sente impulsos contra os quais quer lutar, mas se sente impotente. 

Eu gostei da Zera porque ela não é nenhuma mártir, ela tem um lado mal e luta contra isso, ela se comporta de maneira insolente e egoísta no começo, mas ao mesmo tempo isso a torna muito humana e real para quem lê. Os diálogos da Zera com outros personagens são extremamente bem escritos e eu adorei como Sara Wolf soube criar essa protagonista peculiar. Ah, Zera é plus-size, ou gordinha pra quem preferir, e o seu jeitinho bem resolvido e até meio convencida me deixaram orgulhosa dela. Zera é linda, se sente linda e ninguém derruba sua auto-estima, adorei ver essa representatividade tão bacana na trama.

Falando em representatividade, aplaudi encontrar também personagens negros / quase negros com grande protagonismo. Lucien d'Malvane tem os cabelos negros como de um corvo e a pele "dourada" assim como Lady Y'Shennria que também é quase negra. Ambos foram personagens incríveis, bem elaborados, cheios de protagonismo e uma dose certa de acidez nos diálogos que eu adorei.

Temos também a Fione, um personagem que tem uma deficiência física em uma das pernas e é maravilhosa, valente, corajosa, inteligente e surpreendente. Fione vai roubando a cena durante os capítulos finais do livro e conseguiu ganhar meu carinho.

Lucien é um mocinho que a gente começa a amar aos poucos. No começo ele também age bem insolente e detestável com a Zera e até a metade do livro temos um jogo de gato e rato , ou melhor, enemies to lovers, que é divertidíssimo de acompanhar. O legal foi que a autora soube o momento certo de mudar a situação e não ficou forçando a barra com uma guerrinha interminável. 

Eu gostei como o romance foi sendo construído, sem pressa mas sem enrola enrola. Achei que tudo foi acontecendo de uma maneira bem natural, envolvente, e torci pelo casal.

Também gostei demais das relações de amizade e companheirismo que a trama traz. O relacionamento entre Zera e Lady Y`Shennria é um cubo de gelo e estranheza no começo, e com o tempo elas desenvolvem uma relação de afeto de tutora e pupila/ tia e sobrinha que achei bem bacana de se ver. 

Eu gostei que a trama não fica focada em romance, mas sim em muita intriga e aventura. Até a metade do livro a gente acompanha a transformação de Zera em uma dama da sociedade, porque ela precisa fingir que a é a sobrinha perdida de Lady Y'Shennria. Depois a autora nos imerge nas intrigas da corte, nas disputas entre as damas e nas traições do rei. Conhecemos o lado nobre de Veris para logo depois também termos um vislumbre do lado pobre da cidade, do sofrimento de parte da população e enquanto elabora essa parte mais política da estória, também vemos o nascer de um romance entre Zera e Lucien. O fato do romance adquirir apenas uma parte da importância na trama deixou tudo interessante porque houve espaço para outros conflitos, para vilões e armações, além de mistérios a parte de Zera, como por exemplo a morte da princesa Varia.

O final foi perfeito! Carregado de tensão, a gente pensa que sabe para onde a estória vai e o que Zera vai escolher fazer, mas somos surpreendidos por uma tremenda reviravolta lá no finalzinho da estória que me deixou ansiosa para a segunda parte, porque me pegou completamente desprevenida.

Bring me their hearts  é uma trama fantástica gostosa de ler, com um clima de contos de fada, e uma protagonista ácida e muito divertida. A escrita de Sara Wolf é envolvente e rápida, a ambientação é muito boa e os conflitos que foram aparecendo ao longo da trama me prenderam bastante. Achei o enredo todo bem original, fora dos parâmetros de sempre e terminei os últimos capítulos com uma sensação agradável. Com certeza continuarei lendo os próximos desta trilogia.

"Eu congelo com ciúmes de todos os humanos que assisto passarem na Estrada dos Ossos - envolvidos em seus problemas, mas ainda muito livres para fazer o que quiserem, ir aonde quiserem. O mundo é deles, se apenas eles parassem e percebessem; eles têm o maior presente de todos em suas mãos - seus próprios destinos."

"-Lute - ele insiste, a voz como fogo, tão diferente do seu habitual tom modesto. - Lute com tudo o que você tem, com tudo o que você é. Tudo o que resta de você, lute contra isso. Abrace a menor das luzes e nunca pare de lutar."