(Review 300) - Vilão (Villains #1)

Uma história sobre ambição, inveja, desejo e superpoderes, da autora da série "Tons de Magia".
Victor e Eli, dois jovens brilhantes, arrogantes e solitários, se conheceram na Universidade de Merit e logo se deram bem, identificando um no outro a mesma sagacidade e a mesma ambição. No último ano da faculdade, o interesse em comum numa pesquisa sobre adrenalina, experiências de quase morte e poderes sobrenaturais lhes oferece uma possibilidade antes inimaginável: de que uma pessoa, sob as condições certas, seja capaz de desenvolver habilidades extraordinárias. No entanto, quando colocam em prática essa teoria, as coisas dão muito errado. 
Dez anos depois, Victor foge da prisão, determinado a encontrar seu antigo amigo - e agora inimigo. Para localizá-lo ele conta com a ajuda de uma garotinha, Sydney, cuja natureza reservada esconde uma habilidade sem igual, mas extremamente perigosa. Enquanto isso, há dez anos Eli tem uma única missão: erradicar todas as pessoas ExtraOrdinárias que encontra - exceto sua ajudante, Serena, uma mulher enigmática e persuasiva, capaz de impor sua vontade a qualquer um. 

Vilão é um livro que esperava há muito tempo. Acompanho vários blogueiros e sempre que este livro era o alvo dos comentários, as opiniões eram quase unânimes: V.E. Schwab traz um livro arrasador, uma obra prima sombria sobre pessoas duvidosas, com super poderes. 

Victor Vale foi o melhor amigo de Eli "Ever" Cardale há dez anos atrás. Ambos eram garotos diferentes, incomuns. Distantes, inteligentes, metódicos, se tornarem colegas de quarto na universidade parecia ser mais que pura coincidência, parecia ser mesmo obra do destino. Quando Eli escolhe apresentar um trabalho de conclusão de curso sobre EO´s (pessoas ExtraOrdinárias) que viveram experiências de morte e de forma misteriosa desenvolveram um dom incomum, o instinto científico que move os dois amigos e a ambição de testar a teoria em si mesmos se torna irresistível. E é assim que Victor e Eli decidem ser as cobaias e criar para si próprios experiências mortais, tentando voltar "ao mundo dos vivos" e assim provar a teoria de que EO´s existem e podem ser mais comuns do que pensamos. Quando a experiência dá certo, nenhum dos dois consegue lidar com os efeitos adquiridos. Parece que falta algo. Porque de repente essa apatia parece estar tomando conta deles? Uma sensacão de profundo vazio? Será que há algo errado e voltar da morte pode ser antinatural e perigoso? Quando Victor comete um crime, por conta de seu novo poder, Eli não pensa duas vezes: Victor é uma ameaça. Assim, Victor vai para a prisão, e passados dez anos, depois de uma fuga bem sucedida, Victor está de volta e quer vingança. O problema é que Eli também não é um herói, ele acredita possuir uma missão e em seu estado mais insano vai ultrapassar qualquer limite pra conseguir o que quer.

Adorei o toque melancólico e obscuro da narrativa de Schwab. Os dois protagonistas da história possuem um caráter duvidoso e são capazes de agir impiedosamente encontrando justificativa  "justa" para seus atos, por mais absurdos que sejam. Isso os faz muito humanos. O ser humano no geral quando erra sempre procura uma justificativa, uma explicação que de certa forma amenize seu erro, que o faça parecer um pouco mais nobre. Pois aqui temos dois vilões lutando entre si, cada um defendendo seu propósito maluco e egoísta, ao mesmo tempo em que encontram o que consideram "motivos plausíveis" para suas atitudes. E é tudo bastante verossímil. Victor e Eli são ex-amigos, e por toda a leitura sentimos essa união/obsessão que parece impedir que ambos sigam adiante com suas vidas. Tanto Victor quanto Eli são surpreendentes, personagens bem trabalhados, cheios de facetas, de impulsos e de surpresas.

Meu favorito foi Victor. Senti mais empatia por ele porque achei que foi mais fácil entender suas motivações. Ele se sente traído, quer se vingar, e apesar da narrativa estar focada nos dois personagens, senti que Victor cresceu mais durante a trama, se tornou mais carismático e muito mais interessante. Os personagens secundários que interagem com Victor também acabam sendo mais fascinantes que os do lado de Eli. A garotinha Sydney foi resgatada pelo próprio Victor, e ela é leal, ao mesmo tempo em que tem suas próprias atitudes. Sydney evolui tanto durante a leitura ao ponto de se transformar como uma fênix diante do olhos do leitor, antes a garotinha frágil e dependente, e ao final, uma garota obstinada, lutadora e porque não, vingativa também. Junto a Victor e Sydney também temos Mitch, um ex detento grandalhão que tem um coração bom e é um gênio dos computadores, um hacker competente que apesar de não ter um super poder, é mega talentoso e desenvolve uma parceria bacana com Victor. Um trio que o leitor levanta e bate palmas, pois se trata de personagens verdadeiramente intrigantes e intensos. 

Com Eli não senti nenhuma conexão. Achei suas motivações absurdas, o personagem tem uma personalidade frívola e, dá pra sentir que a autora mais o coloca como um antagonista do brilhante Victor do que como um segundo protagonista. Ele não tem a profundidade de Victor e nem o carisma. E apesar de sua companheira, Serena, ser interessante e possuir um dom bem assustador, não foi o suficiente para despertar em mim interesse pela história de Eli. 

Os saltos no tempo que o livro traz alternando entre dez anos atrás e os dias atuais podem parecer confusos no começo, mas logo a gente pega o jeito e a leitura se torna um deleite pra qualquer leitor. 

Vilão é bem mais do que um X Men. É uma história com tons mais sombrios, com personagens emocionalmente instáveis, com uma narrativa viciante e com um final tão carregado de emoção e tensão que foi impossível fechar o livro sem querer reviver tudo aquilo e pensar por um bom tempo no fabuloso Victor Vale e sua trupe. 

A Record fez uma edição bem bonita, eu gostei bastante dessa capa que, aliás, faz parte de outro detalhe tão inteligente da trama que só resta unir-me aos já milhares de leitores no mundo que já consideram Vilão (Vicious) um tremendo best-seller pra ser lido e recomendando. 

Não vou nem dizer que Vilão me surpreendeu porque eu já sabia que esse livro seria muito bom, a premissa é bem o tipo que gosto e a construção dos personagens desde o primeiro momento se mostrou impecável. A verdade é que Vilão foi ainda mais do que esperei, se tornando um dos meus favoritos do ano, com toda a certeza! Mal posso esperar pra conferir a segunda parte, que pelo final deste, promete ser cheia de reviravoltas pra deixar qualquer leitor com o coracão a mil.

"A ausência de dor causava uma ausência de medo, e a ausência de medo causava um descaso por consequências. Sabia que escapar da cela não era uma boa idéia, assim como o que estava prestes a fazer. Era uma péssima idéia. Conseguia avaliar os próprios pensamentos melhor agora, maravilhado com a maneira como sua mente tomava atalhos que ignoravam a cautela e favoreciam o imediatismo, a violência e a impetuosidade..."

"Victor não sabia muito bem como se sentia em relação aos EO´s. Até encontrar Sydney na beira daquela estrada, ele só havia conhecido um EO além de si próprio, e era Eli. Se tivesse que julgar com base nos dois, os ExtraOrdinários eram problemáticos, para dizer o mínimo."