(Review 315) - Algo sinistro vem por aí - De repente, no último livro

26 de agosto de 2019

(Review 315) - Algo sinistro vem por aí

Título original: Something wicked this way comes
Autor: Ray Bradbury
Editora: Holiday House (EUA) / Bertrand Brasil (Brasil) / Minotauro (Espanha)
Páginas: 260
Ano de Publicação: 1962 (EUA) / 2019 (Brasil)
Gênero: Suspense / Mistério / Magia 
Valoração: 

Um parque itinerante chega a uma pacata cidade do meio-oeste dos Estados Unidos. No entanto, sob tendas e luzes coloridas esconde-se algo ameaçador: um paraíso infernal. Envoltos pelas intrigantes atrações, os expectadores passam por transformações assustadoras que poderão mudar suas vidas de maneira diabólica. Ávidos por aventura, os amigos de infância Jim Nightshade e William Halloway mergulham nesse curioso circo dos horrores para descobrir o que há por trás das atrações. Após se depararem com uma caravana do mal, a dupla tem de desvendar o pesado custo dos desejos... e a fábrica dos seus piores pesadelos. 



Minha opinião: 
Algo sinistro vem por aí  foi talvez a leitura mais diferente que fiz neste ano. eu nem saberia dizer em qual gênero esse livro se encaixaria. Uma fábula, terror ou fantasia? A história parece ser uma mescla de tudo isso, retratando com melancolia temas como a auto aceitação, a tristeza e a morte. 

Eu nunca havia lido nada do Ray Bradbury, cultuado autor de Fahrenheidt 451 e achei sua narrativa bem única. Talvez seja porque Algo sinistro vem por aí é um clássico de 1962 e o estilo narrativo daquela época era bem diferente do estilo mais despojado de hoje em dia. Ou talvez seja porque Bradbury simplesmente fosse um homem de grandes idéias, algumas das quais difíceis de se visualizar e, para uma leitora distraída como eu, difíceis de compreender.

A trama escrita em 260 páginas me pareceu bem mais longa do que é, senti a narrativa densa e não consegui me prender completamente à leitura porque não pude entender o intuito do autor. 
Aqui temos dois protagonistas, garotos entrando na adolescência, desejosos em crescer logo e realizarem sonhos. Jim Nightshade sempre foi o mais inquieto. William Halloway o fiel escudeiro, disposto a acompanhar Jim em todos suas aventuras. Quando um misterioso parque de diversões aparece na cidade de maneira bem abrupta, os garotos sentem uma sensação inquietante e, quando vizinhos e conhecidos simplesmente passam a desaparecer, os meninos logo associam isso ao parque e sabem que algo errado acontece por lá. Com a curiosidade e a valentia típicos da infância, os dois se arriscam às escondidas nas noites da pequena cidade para desvendar o mistério, mas quando eles mesmo caem nas garras do perverso Senhor Dark, só resta fugir e torcer para que o parque decida seguir viagem junto com aberrações que o acompanham. Mas nada é fácil, Jim e Will precisam lutar contra a própria escuridão desconhecida dentro de si mesmos se quiserem encontrar a razão de terem também se tornado um alvo. 

Algo sinistro vem por aí não é um livro ruim. Ao contrário, por ser tão diferente ele acabou sendo um livro que ao terminar me fez refletir bastante. Foi complicado até expressar em palavras nesta resenha a sensação que o livro trouxe. Por um lado, me confundiu, não me envolveu e pareceu um pouco cansativo. Por outro lado, a genialidade de Bradbury ecoa através das páginas, pois a gente consegue sentir algo sendo dito nas entrelinhas, sabemos que a história se tornará mais intensa à medida que o final dela vai chegando, e os temas retratados pelo autor indireta e diretamente acabam aparecendo sutilmente na trama, através de personagens cercados de mistério. 

Eu achei esse livro muito maduro. Ele traz duas crianças (ou pré adolescentes) como protagonistas e também dá destaque a um senhor de meia idade desgostoso com a vida. O autor fala de maneira muito natural sobre a dor de envelhecer, o desejo de mudar, o descontentamento que traz depressão e inquietude e, finalmente, de uma maneira poética, Bradbury divaga e teoriza sobre a própria morte, nos permitindo vê-la não como algo terrível, mas como o fim inevitável, um processo pelo qual passaremos, cedo ou tarde, mas que nem por isso deve ser visto como algo assustador. Achei a trama toda super melancólica, carregada de nostalgia e de um sentimento de perda angustiante. Os meninos fogem e querem escapar, mas o parque os seduz com sua proposta de realizar sonhos, e enquanto tentam resistir a atração que o parque traz, eles tem que encarar suas imperfeições, suas falhas gritantes, seus fracassos evidentes. Há uma clara evolução em ambos os personagens e eu gostei de ver esse amadurecimento nos meninos e também em outro personagem importante, Charles Halloway, o pai tristonho de Will, que se refugia nos livros da biblioteca do qual é zelador e por conta disso se torna ausente. É interessante ver que Charles é um pai que ama seu filho, ama sua esposa, mas não consegue encará-los porque ele tem um problema grande de se aceitar como é, ele se acha uma perda de tempo e por causa disso se afasta de quem ama. O autor ressalta isso muitas vezes ao longo das páginas, e esse foi um ponto positivo do livro: a exatidão desta mensagem, a facilidade com que Bradbury demonstra o quanto afastamos de nós quem amamos muitas vezes de maneira inconsciente.

Dá pra recomendar esse livro pra todo mundo? Honestamente, eu não sei. É um livro tão diferente que não dá pra enquadrar um tipo especifico de leitor pra ler essa história. É uma história que pode ser lida por todo mundo, mas não sei se será compreendida por todos ou se agradará a maioria. Eu mesma tenho sentimentos divididos com esse livro, e achei a narrativa de Bradbury e a história que ele construiu um grande risco, pois é aquele tipo de obra que deixa uma sensação estranha na gente, um misto de sentimentos que impede a gente de amar ou odiar, de dar 5 estrelas ou 1 estrela. Talvez por isso dessa vez tenha ficado tão em cima do muro ao falar de um livro e me sentido mais cômoda dando 3 estrelas que refletem bem uma história que poderia ter sido carregada de magia, mas me frustrou em alguns momentos. 

Concluindo...

Em resumo, Algo sinistro vem por aí  mistura mistério, magia, lendas, drama e uma boa dose originalidade na narrativa do autor. Fala de temas sérios através de uma narrativa bem peculiar, e é aquele tipo de livro que causa um certo desconforto no leitor acostumado a narrativas mais diretas e dinâmicas. Apesar de ser um livro pausado e por vezes confuso, conseguiu apresentar um final bonito, que me fez refletir em questões da vida (e da morte) como poucos livros fizeram. Sendo assim, recomendo esse livro pra quem busca um tipo de literatura bem única, daquelas "pra sair da zona de conforto" mesmo e quer se aventurar em uma história que pode conduzir cada leitor aos mais variados tipos de conclusão. 

"Ah droga, não deixe que eles bebam suas lágrimas e desejem mais! Will, não os deixe pegar seu choro, virá-lo do avesso e usá-lo como sorriso! Eu quero me danar se vou deixar a morte usar a minha tristeza como troféu. Não lhes dê nada."


"Às vezes, o homem que parece ser o mais feliz da cidade, aquele com o maior sorriso, é o que carrega o maior fardo de pecados. Existem sorrisos e sorrisos, e é bom você aprender a distinguir os alegres dos sinistros". 
 
Ray Bradbury foi um escritor americano, nascido em Waukegan, no Illinois, em 1920. Ele é mais conhecido por sua obra mais famosa, "Fahrenheit 451", de 1953, uma das mais renomadas obras de ficção do século XX, precursora do gênero distopia. Outras de suas obras incluem "Crônicas Marcianas" (1950) e "The Illustrated Man" (1951). Muitas de suas obras foram adaptadas ao longo de sua carreira, tanto para o cinema, quando para a televisão, assim como para quadrinhos e desenhos animados. 
Os primeiros rascunhos e manuscritos de contos e estórias desenvolvidas pelo autor datam de 1931, quando este tinha cerca de onze anos de idade. Leitor voraz desde cedo, Bradbury sempre creditou nomes como Edgar Allan PoeEdgar Rice Burroughs e Júlio Verne como suas primordiais influências.
Bradbury faleceu aos 91 anos, na cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos.

Web Page Oficial: http://www.raybradbury.com/



Até a próxima, 


Ivy

16 comentarios:

  1. Oi, Ivy
    Eu nunca me senti cativada pelo autor, eu acho que não tem nada a ver com o tipo de livros que leio e eu prefiro não quebrar a cabeça com histórias que não vou entender direito a ideia. Eu vi outra resenha dessa obra bem parecida com a sua então acredito que cada um tem uma experiência diferente com a leitura. No meu caso eu passo haha
    Beijo
    Capítulo Treze
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  2. Oi, Ivy tudo bem? Eu já li alguns livro do autor, mas esse aí não li e fiquei super curioso depois de ter lido sua resenha. Abraço!

    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/

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  3. Oi Ivy!
    Sei como é isso, o livro ser tão fora da caixinha q te deixa em cima do muro!
    Eu nunca li nada do autor, mas pretendo conferir principalmente o Fahrenheit 451!
    Bjs
    http://acolecionadoradehistorias.blogspot.com

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  4. eu já li 451 e adorei, apesar de o autor ser meio enrolado e demorar pra chegar no ponto mesmo, eu gostei muito.
    Vi muitos comentários sobre esse livro, a grande maioria negativos ou bem medianos, mas eu quero ler ele porque uma coisa que todo mundo falou foi que ele faz a gente meio que pensar fora da caixinha, e isso sempre me deixa feliz, não importa que livro seja!

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  5. Olá, Ivy.
    Eu não gostei do outro livro do autor, mas esse optei por olhar como uma história de terror para jovens adultos e acabei gostando. Mas a leitura não é para qualquer um não.

    Prefácio

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  6. Que interessante, não conhecia os outros livros do autor. Que história diferente, entendo o que você diz sobre não ser um livro para todo mundo.
    Beijos
    Mari
    Pequenos Retalhos

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  7. ray bradbury é um dos meus escritores preferidos de todos os tempos, porém esse livro eu nunca li
    gostei bastante da premissa, vou deixar anotado aqui pra ler em breve

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  8. Olá, tudo bem? Caramba, que trama é essa??? Não conhecia o livro ainda, mas sem dúvidas fiquei louca para ler, apesar de um pouco receosa também (tenho medo, haha). Amei tua resenha e já vou adicionar na minha listinha de desejados!

    Beijos,
    Duas Livreiras

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  9. Olá! Tudo bem?
    Confesso que fiquei curiosa sobre o livro, especialmente por te dividir assim, mas não sei se eu me arriscaria a ler agora, por mais curiosa que eu tenha ficado. Então anotei aqui a dica para, quem sabe, no futuro!

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  10. Li Fahrenheit 451 e achei muito interessante e concordo com a questão da lentidão na narrativa, com certeza na época do lançamento as pessoas liam sem tanta cobrança como hoje, apreciavam mais e exigiam mais dos enredos. Enfim, confesso que não conhecia esse outro título, mas achei interessante conhecê-lo um pouco melhor aqui. Parabéns pela leitura e valeu pela indicação.

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  11. Eu tinha visto esse lançamento mas não fazia ideia que era do Ray! Que doidera, li somente o livro mais famoso dele e achei tudo bem complicado de entender, não complexo, mas novo, sabe? Como você disse, isso nos faz refletir bastante. Vou ficar atenta sobre esse lançamento e quem sabe, ler ele.

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  12. Oi, uma pena que ele seja uma leitura meio arrastada, pois a premissa do parque e dos desaparecimentos que as crianças associam a ele é bem interessante, mas é uma leitura que fiquei tentada a fazer por essas reflexões que trouxe e pelo ar mais melancólico. Gostei de conferir sua opinião.

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  13. Fahrenheidt 451 é um dos meus livros preferidos da vida. Ele tem um temática atemporal. Eu tenho interesse em ler esse, mas sei que não vai ser a mesma coisa. De qualquer forma, gosto de conhecer outras obras de autores que me cativam.

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  14. Olá,
    Nunca li nada do autor. Mas digo uma coisa se tem um parque de diversões/circo e tem mistério pra mim automaticamente é um livro de terror, já que acho um dos cenários mais assustadores possíveis hahahaha.
    Creio que vou ler em breve espero que não seja tão confuso.

    Debyh
    Eu Insisto

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  15. Olá, tudo bem?
    Esse livro me dividiu, ao mesmo tempo em que eu quero ler eu fico meio receosa de acabar tendo dificuldades com a leitura e por enquanto vou adiando esse momento. Mas pretendo dar uma chance futuramente e espero gostar.

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  16. Gostei muito da sua resenha. Pelo o que você relatou, é realmente recomendar esse livro para todo mundo, pois acho que nem todos irão curtir, sabe? Eu confesso que fiquei bem interessada, principalmente pela mistura de gêneros.

    Beijos,
    Blog PS Amo Leitura

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