(Review 295) - A garota do casaco azul - De repente, no último livro

1 de julio de 2019

(Review 295) - A garota do casaco azul

Título original: Girl in the blue coat
Autor: Monica Hesse
Editora: Rocco (Brasil) / Little Brown Books for young readers (USA) / Nube de Tinta (Espanha)
Páginas: 336
Ano de Publicação: 2016 (EUA) / 2019 (Brasil)
Gênero: Romance Histórico
Valoração: 

Amsterdã, inverno de 1943.
Hanneke Bakker não é mais a garota que era há dois anos e meio. Depois de perder seu namorado durante a invasão alemã à Holanda, a garota é transformada pela guerra. Trabalhando com contrabando como forma de sustentar a família e resistir do seu modo à ocupação nazista, Hanneke recebe diversos pedidos estranhos de clientes, mas nenhum deles tão amedrontador quanto o de encontrar uma garota judia que sumira de seu esconderijo sem explicação. Com poucas pistas por onde começar, além do fato de a garota usar um casaco azul, Hanneke acaba sendo arrastada para o centro da resistência holandesa. Para encontrar Mirjam Roodveldt, Hanneke precisará colocar sua vida em risco, seus ideais à frente e deparar com a realidade brutal do nazismo. Lindamente escrito, com uma pesquisa histórica meticulosa e um enredo completo, A Garota do Casaco Azul é um romance extraordinário sobre coragem, sofrimento e amor em tempos impossíveis. 

Minha opinião:

A garota do casaco azul nos leva de volta à Holanda ocupada pelo regime nazista da Segunda Guerra Mundial. Hanneke Bakker é uma garota de dezoito anos que viu sua vida mudar radicalmente com a invasão alemã. Seu namorado, Bas, foi morto em combate. Ela também perdeu sua melhor amiga, Elsbeth. Sua mãe já não consegue mais dar aulas de piano, pois não há alunos. E Hanneke agora deve andar pelas ruas tendo de conviver com soldados gritando em outro idioma e pessoas desaparecendo. A maioria deles judeus. 
Para sobreviver, Hanneke recorre a ilegalidade. Ela é muito boa encontrando coisas, itens agora raros no país em guerra. Cigarros, chocolate, e até mesmo café são verdadeiros tesouros. E os cupons dados pelo regime nazista não são suficientes para alimentar ninguém. Assim, pessoas como Hanneke conseguem fazer dinheiro encontrando rápido itens escassos.
Quando a Sra. Jassen, uma cliente de Hanneke, lhe pede um favor, Hanneke sabe que deveria dizer não. Ela encontra coisas, não pessoas. Mas a história de Mirjam Roodveldt, a judia de quinze anos que estava escondida no sótão da Sra. Jassen após testemunhar o massacre da própria família, consegue afetar Hanneke. E o mistério ao redor do desaparecimento de Mirjam, que simplesmente partiu do esconderijo rumo ao desconhecido, aguça a curiosidade e os instintos de Hanneke, que aceita o desafio, mesmo sabendo que isso pode custar sua vida.
Na busca por Mirjam, Hanneke vai encontrar mais do que imaginava. Ela conhecerá membros da Resistência holandesa, e sofrerá vendo a devastação de seu país, os crimes cometidos pela Gestapo, tendo como maior arma o medo e a coação, a tortura e a perversidade.

A garota do casaco azul é um livro que nos deixa com o coração partido. Sofrendo cada vez que nos adentramos mais, junto a Hanneke, nos verdadeiros impactos da Segunda Guerra na Holanda. 
É uma história sobre altruísmo, sobrevivência, medo, perdas, dor... Sobre não se calar diante de um inimigo poderoso.

Primeiramente, preciso ressaltar a exatidão e riqueza de detalhes que nos oferece Monica Hesse. A autora mergulhou em uma pesquisa histórica profunda, e a construção da história é toda baseada em lugares reais. A ficção pela busca de Mirjam se mistura com a realidade do triste destino de seis milhões de judeus (2/3 dos judeus da Europa) que foram massacrados pelo regime nazista no período de 1939 à 1945.
Hesse conseguiu criar uma trama que literalmente transporta o leitor para aquele cenário desolador, nos sentimos parte daquele contexto, e é possível, através de sua narrativa certeira, visualizar cada um dos eventos ocorridos. É tudo tão real, brutal e nítido que praticamente compartilhei o medo e a angústia, a frustração e o desalento de cada personagem. 

A escrita de Hesse é carregada de emoção e sensibilidade. Hanneke é um personagem atual, que envolve o leitor. Em suas ações e reações pude enxergar um pouquinho de mim mesma, me identificar com ela e isso me surpreendeu bastante porque Hesse nos mostra que apesar das diferenças de gerações entre nós e Hanneke, apesar da diferença de nossas situações, no fundo ela e os seus acabam se parecendo a qualquer um de nós em muitos sentidos. Essa proximidade entre os personagens e o leitor atual nos permite contemplar a história com olhos ainda mais humanos, com o coração ainda mais aberto, perdoando até mesmo os deslizes que estes personagens muitas vezes cometerão, pois, ao serem tão reais, Monica Hesse acertamente permite que seus personagens errem, mintam e façam coisas ruins, pra logo depois nos emocionar e roubar lágrimas. 

Concluindo...

Essa veracidade brutal no relato de Monica Hesse permitiu que esse livro se tornasse um dos meus queridinhos em histórico. A garota do casaco azul tem de tudo: uma narrativa forte, personagens destemidos mas extremamente reais e falíveis, uma ambientação impecável, um mistério bem construído que ainda traz algumas reviravoltas que derrubam as certezas do leitor, além do testemunho sombrio e comovente sobre o devastador legado deixado pela máquina da morte que foi o regime nazista. Esse é um livro que, ao meu ver, deveria ser indicado nas escolas, nas faculdades, nos clubes de leitura ao redor do mundo, pois em tempos de tanta incerteza, relembrar um pouco de nossos erros mais terríveis como humanidade se faz necessário e essencial.

"Ao meu lado o andar de Ollie é relaxado, mas a parte superior de seu corpo parece tensa e nos falamos por gestos enquanto ignoramos os gritos que ainda consigo ouvir a alguns quarteirões. Nossas mãos estão suando. Não quero ter que ver as pessoas que os soldados estão levando. É covarde, mas não quero lembrar que, porque tenho cabelos louros e o sobrenome certo, eles não vão me levar".


"Todos nós - Bas, Elsbeth, Ollie, eu -, eu me importaria que as pessoas entendessem que éramos imperfeitos, que tínhamos falhas e que estávamos fazendo o melhor que podíamos nessa guerra. Estávamos envolvidos em coisas que eram muito maiores do que nós mesmos. Nós não sabíamos. Não queríamos isso. Não foi culpa nossa".

Monica Hesse é uma autora americana do Illinois. É jornalista e escreve para o The Washington Post, veículo para o qual já cobriu casamentos reais, campanhas políticas, cerimônias do Oscar e diversos outros acontecimentos. Como jornalista, ganhou o prêmio Society for Feature Journalism´s Narrative Storytelling. Seu primeiro romance, "American Fire", e "A garota do casaco azul" ganharam o Edgar Award na categoria Melhor Suspense Histórico Juvenil. Monica é vegetariana e mora com o marido e seu cachorro. 


Twitter: Monica Hesse


Até a próxima, 


Ivy

14 comentarios:

  1. Olá, tudo bem? Eu ainda não conhecia esse livro, mas sou fascinada por obras que trazem a Segunda Guerra Mundial como tema, então fiquei mega curiosa para ler. Pelo o que tu disse, parece ser uma história bem triste e cruel. Amei a dica!

    Beijos,
    Duas Livreiras

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  2. Oi, Ivy!
    Menina, eu vi esse livro, mas não prestei muita atenção. Eu achava que era sobre algum amor durante a Segunda Guerra, mas me enganei
    Beijos
    Balaio de Babados

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  3. Oi, Ivy!

    Esse livro parece mesmo ser forte e comovente. Gosto de histórias que retratam esse cenário, o título inclusive me lembrou A menina que roubava livros, e pela sua resenha a autora soube detalhar os eventos com riqueza!

    xx Carol
    https://caverna-literaria.blogspot.com/

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  4. Olá Ivy,

    Essa é a primeira resenha que eu leio desse livro, achei muito interessante e vou colocar na minha lista de desejados, ótima dica....bjs.

    https://devoradordeletras.blogspot.com

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  5. Eu admiro muito esses autores, que fazem esse tipo de pesquisa. Enriquece muito mais a leitura, fato! Confesso que não estou muito no momento de ler esse tipo de livro, mas pela riqueza e identificação com os personagens, anotei essa dica para ler em breve. Fiquei bem curiosa! ♥

    Beijos, Carol
    www.pequenajornalista.com

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  6. Oi Ivy,

    Não conhecia o livro, mas pelo sua resenha já dá para ver que é emocionante.
    Gosto muito quando os autores dão aquela riqueza em detalhes, principalmente em histórias desse gênero, parece até que estamos ali do lado do personagem.
    Dica anotada com certeza!

    Bjs e uma boa semana!
    Diário dos Livros
    Conheça o Instagram

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  7. Oi Ivy! O livro parece ter uma trama marcante e muito rica. Eu não apostava muito nele, mas desde que vi seus comentários, fiquei muito curiosa sobre a obra. Bjos!! Cida
    Moonlight Books

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  8. Estava esperando pela sua resenha <3
    E realmente este livro te conquistou! Também gostei dos elementos, mesmo não lendo deu pra sentir que foi uma história bem desenvolvida e com vários detalhes. Quero dar uma chance <3

    Sai da Minha Lente

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  9. Primeiro, que autora mais linda, poxa vida! Acho essa temática um tanto dolorosa e pra ser sincera eu evito ler porque realmente me toca e fico em uma ressaca literária enorme, mas reconheço a importância desses assuntos e espero ter psicológico para realizar essa leitura.

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  10. Oi, a premissa desse livro me chama bastante a atenção. Faz tempo que não leio um enredo com esse contexto histórico e, pela sua resenha, fiquei curiosa para conferir como a trama se desenrolará.

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  11. Oi, tudo bem? Nossa, fiquei encantada. Eu amo histórias sobre a II Guerra Mundial, é um assunto que me interessa de qualquer jeito. Já tinha ouvido falar do livro, mas não me lembrava que era sobre isso. Vou deixar na wishlist, com certeza, porque me interessa demais! Obrigada pela resenha, adorei!

    Love, Nina.
    www.ninaeuma.blogspot.com

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  12. Mulher, esse tipo de leitura me DETONA! E eu costumo evitar... mas eu adorei demais sua resenha. Sua pontuação sobre o que leu e a importância de relembrarmos uma das fases mais horrorosas da humanidade.
    Já quero ler. Vou ver se consigo pegar pela parceria!
    Valeu demais a dica. Já passei o endereço do post num grupo literário de amigos, porque achei a cara de umas amigas.

    Beijão

    Carol, do Coisas de Mineira

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  13. confesso que pela capa eu não daria nada pra obra, mas olha, falou de guerra e nazismo eu já fico curiosa sobre como desenvolvem *o*

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  14. OLá!! :)

    Eu nunca tinha ouvido falar deste livro mas ate fiquei curioso, quanto mais depois da tua opiniao! :) Ate gostava de saber mais!

    Enfim, que otimo que existe realismo e bruteza na apresentaçao das coisas, e que a escrita tambem te conseguiu agradar!

    Boas leituras!! ;)
    no-conforto-dos-livros.webnode.com

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