(Review 362) - Na hora da virada - De repente, no último livro

8 de junio de 2020

(Review 362) - Na hora da virada

Título original: On the come up
Autor: Angie Thomas
Editora: Galera Record  (Brasil) / Balzar + Bray (EUA) / Urano Ediciones (Espanha)
Páginas: 375
Ano de Publicação: 2019 (EUA) / 2019 (Brasil)
Gênero: Romance Juvenil
Valoração: 
Goodreads / Amazon / Skoob / Saraiva / Cultura


O aguardado segundo romance de Angie Thomas, autora do premiado best-seller "O ódio que você semeia".
Bri é uma jovem de dezesseis anos que sonha em se tornar uma das maiores rappers de todos os tempos. Ou, pelo menos, ganhar sua primeira batalha. Filha de uma lenda do hip-hop underground que teve o sucesso interrompido pela morte prematura, Bri carrega o peso dessa herança. 
Mas é difícil ter a segurança de estrear quando se é hostilizada na escola e, desde que sua mãe perdeu o emprego, os armários e as geladeiras estão vazios. Então, Bri transforma toda sua ira em uma primeira canção que viraliza... pelos piores motivos! No centro de uma controvérsia, a menina é reportada pela mídia como uma grande ameaça à sociedade. Mas com uma ordem de despejo ameaçando sua família, ela não tem outra escolha a não ser assumir os rótulos que a opinião pública lhe impôs. 
"Na hora da virada" dá aos leitores de Angie Thomas outra protagonista pela qual torcer. É uma história sobre lutar por seus sonhos e também sobre a dificuldade de ser quem você é, não quem as pessoas querem que você seja. 



Eu tinha uma curiosidade gigantesca sobre o que acharia do novo trabalho de Angie Thomas. O ódio que você semeia, sua estréia, foi uma surpresa maravilhosa e se tornou um dos meus favoritos. Thomas conseguiu ser uma voz dos excluídos na literatura jovem e conseguir dar sequência ao sucesso inicial é sempre um fardo difícil para qualquer escritor.

Quando li a sinopse de Na hora da virada  achei a estória interessante, mas ao mesmo tempo bateu um receio. Thomas se arrisca em trabalhar novamente com os mesmos elementos de seu primeiro livro. A vida no gueto, a desesperança dos jovens negros excluídos dos EUA e a mensagem de luta e perseverança pelos direitos que a autora deixa expresso. É importante, é fundamental, mas bate um receio ver Thomas repetir a mesma fórmula. Felizmente, a autora sabe usar e dosar os ingredientes que tem, e apesar de ter suas semelhanças com O ódio que você semeia, Angie Thomas conseguiu entregar uma estória fresca, com toques diferentes, com personagens bem elaborados, que garante mais um sucesso na trajetória da nova autora. 
Na Hora da Virada nos leva de volta aos guetos estadunidenses, desta vez tendo o rap como pano de fundo e a trajetória de uma jovem que tenta alcançar um sonho sem perder a própria identidade.

Brianna  estuda, é obediente e batalhadora, mas no sangue flui o desejo de ter sucesso como rapper, seguindo os passos do pai, Law, um rapper que teve uma carreira meteórica, alcançou status de estrela, mas acabou tendo a vida ceifada de maneira trágica, assassinado diante da esposa, Jay
A jovem viúva se viu então sozinha, com dois filhos pequenos para criar. E o trauma do que viu teve um efeito catastrófico. Jay acabou caindo nas drogas, e Bri e seu irmão Trey  acabaram tendo que ir viver com os avós. 
Anos se passaram, Jay se recuperou e conseguiu de volta a guarda dos filhos, mas ela tem que lutar muito para conseguir sustentar a casa com a ajuda do mais velho, Trey. E Bri, ainda adolescente, sente que só o rap e seu talento pra fazer música podem ajudar a família a finalmente se erguer. Ela só espera pela sua "Hora da virada".
Mas quando sua música se torna um hit, e Bri experimenta por fim o gosto do sucesso, ela vai descobrir que separar o personagem rapper da verdadeira adolescente pode se tornar impossível e que quando você está chegando no auge, erros e palavras equivocadas podem ser um tropeço drástico.

Minha opinião:

A  narrativa da Angie Thomas é no mínimo viciante. Thomas escreve com familiaridade, ela é segura das palavras que expressa e da trama que vai desenrolando ao longo de 374 páginas. Assim como no primeiro livro, Thomas apresenta personagens dolorosamente reais e humanos, que falham grandemente, mas carregam um carisma e uma marca única que emociona o leitor e nos faz desejar finais felizes, embora na trama visceral de Thomas isso nem sempre ocorra com seus personagens.

Eu curto muito como a autora nos apresenta as famílias de suas protagonistas. Pais, mães, irmãos, não são mero pano de fundo. Ao contrário, a construção da família torna a estória única e Thomas capricha nos detalhes e na caracterização de cada um. No primeiro livro o pai me encantou, e neste livro tenho que bater palmas de pé para o personagem da mãe, a Jay, uma guerreira tão bem delineada que dá pra gente visualizar ela como alguém próximo de nós. Outro destaque vai para a tia Pooh, a jovem tia perdida na vida do crime que, longe de ser vilã, quer o melhor para sua sobrinha e busca defendê-la e apoiá-la como pode, apesar de tantas limitações. O real é que tia Pooh por exemplo não é heroína ou mocinha. Ela faz um monte de coisa errada, mas também possuí um lado humano, que faz o leitor refletir e pensar de uma maneira diferente dos estereótipos típicos que nos são apresentados na nossa sociedade porque ela tem esse lado mal e esse lado bom a todo instante manifesto na trama.

Aliás, uma das características de Angie Thomas é justamente essa. Desmontar completamente estereótipos, com suas estórias duras e envolventes. Thomas não romantiza a vida no gueto, não romantiza a pobreza e nem a violência. Longe disso. Ela mostra sem meias verdades as consequências de escolher o lado errado. Mas ela também desmonta julgamentos pré concebidos que temos sobre "bons" e "maus" quando mostra que mesmo errando e caindo, somos todos humanos, amamos e desejamos da mesma maneira. Esse é um recado bacana, porque traz uma lição de tolerância, de aprender com o próximo e julgar menos.

A ambientação perfeita que torna tudo real. Angie Thomas fala das gangues e suas rivalidades, descreve os lugares do Garden com uma perfeição que envolve o leitor naquele cenário narrado. Acho que a veracidade da ambientação é que torna A hora da virada uma estória tão real e crível.

Curti a protagonista Bri, assim como todos do seu entorno, pois cada um representa algo importante, um aspecto da sociedade para se pensar. Bri por exemplo é cheia de sonhos, não tem medo de ir adiante e arriscar, mas ela é cabeça dura, teimosa e se deixa levar, agindo sem pensar. Por conta disso a personagem passa por momentos difíceis, o que faz a estória ser ainda mais importante, pois na narrativa de Thomas, haja o que houver, seus personagens sempre pagam as consequências de seus atos, e mostrar isso ao público jovem leitor é importante.

A narrativa de Thomas vai bem de acordo ao estilo da estória. Ela escreve como uma garota rapper e jovem, fazendo uso da linguagem das ruas e de alguns palavrões, o que longe de constranger, ajuda a tornar a estória real, porque tudo vai dentro do contexto, nada está ali por estar, forçando a barra.

Concluindo...

Continuo me surpreendo cada vez mais com a escrita e a versatilidade de Angie Thomas. Admito que espero que seu próximo livro saia um pouco de sua zona de conforto, apresentando outros lados de Thomas. Mas, com certeza, até aqui, dentro de sua fórmula, Thomas apresenta um livro impecável, que fala sobre sonhos altos e sobre reinvidicações necessárias que, há tempos, a sociedade precisa dar contas. Na hora da virada  foge do típico em literatura juvenil, e apresenta uma pegada realista e moderna que com certeza vai surpreender leitores de todas as idades e estilos. Aliás, mais uma vez temos uma estória com carão de filme que, assim como O ódio que você semeia, tem grandes chances de ganhar sua adaptação.

"Isso parece a conversa que tivemos sobre a polícia. Faça o que eles mandarem, ela disse. Não faça pensarem que você é uma ameaça. Basicamente, eu tenho que me enfraquecer e aguentar o que vier para sobreviver ao momento. Estou começando a achar que não importa o que eu faça. Sempre vou ser o que as pessoas acham que eu sou."



"Eu ganho atenção. Considerando todos os lugares e momentos em que isso poderia acontecer, é nessa hora. Aquelas palavras nasceram na minha cabeça. Na minha. Foram concebidas dos meus pensamentos e meus sentimentos. Surgiram do meu lápis e foram para o meu bloco. De alguma forma, encontraram o caminho da língua dos meus colegas de escola. Acho que estão falando por eles, claro, mas sei que estão falando por mim."


Angie Thomas nasceu e foi criada em Jackson, no Mississippi, o que se percebe pelo seu sotaque. Quando adolescente, era rapper e sua maior conquista foi ter escrito um artigo sobre si mesma na Revista Right On! (com foto). É bacharel em escrita criativa pela Belhaven University e possui um diploma não oficial em Hip Hop. Ela ainda sabe fazer rap, se for preciso. Seu livro de estreia, O Ódio Que Você Semeia (The Hate U Give), foi o primeiro a vencer o Walter Dean Meyers Grant, em 2015, na categoria We Need Diverse Books. O romance será adaptado para o cinema, pela Fox, e chegou ao primeiro lugar da lista do New York Times na semana de seu lançamento.

Web Page Oficial: https://angiethomas.com/

Twitter: Angie Thomas






Até a próxima, 


Ivy

22 comentarios:

  1. Oi, Ivy como vai? Me parece um livro viciante não é mesmo! A premissa é bastante atrativa também. Tenho curiosidade de conhecer a escrita de essa autora, pois não li nenhum livro escrito por ela. Excelente a resenha. Abraço!



    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/

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  2. Oi Ivy, tudo bem?
    Achei a sinopse mega instigante, fiquei muito curiosa sobre o que a protagonista passa.
    Seus elogios à autora também aumentaram minha curiosidade. Sempre quis ler O Ódio Que Você Semeia, mas sinto que perdi o timing. :(
    Beijos,

    Priih
    Infinitas Vidas

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  3. Sou louca para ter esse livro, todas as resenhas que leio dele são positivas e pelo enredo acredito que seja uma história maravilhosa mesma. É bem diferente tratar do rap e toda essa luta por sobrevivência por ser pobre.
    Jardim de Palavras

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  4. Oi, Ivy!

    Vi só o filme de O ódio que você semeia e achei muito bom, além de importante. Bacana saber que a autora, apesar de usar do mesmo tema, soube abordar bem a nova história e apresentar mais aspectos além dos que já havia mostrado no primeiro livro. Fiquei curiosa em ler!

    xx Carol
    https://caverna-literaria.blogspot.com/

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  5. Olá Ivy,

    Eu ainda não conhecia esse livro, a premissa me deixou curioso e sua resenha só aumentou a minha curiosidade, vou antar a dica para uma futura leitura. Ótima resenha.

    Bjs.


    https://devoradordeletras.blogspot.com/

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  6. Olá, Ivy.
    Eu amei esse livro. Li muitos comentários falando que o outro é bem melhor, mas como ainda não li não tenho com o que comparar hehe. Mas pretendo ler esse esse ano ainda para um desafio que estou participando.

    Prefácio

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  7. A escrita dela é ótima e a narrativa traz temas muito importantes que todos deveriam ler e pensar para suas próprias vidas e atitudes. Ótima resenha.

    www.vivendosentimentos.com.br

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  8. Eu só enrolo pra ler esse livro, mas até o mês que vem eu quero conferir. Já sei que vou gostar porque amei O Ódio que Você Semeia
    Beijos
    Balaio de Babados

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  9. Olá! Até hoje ouvi muito falar sobre "O odeio que você semeia", mas ainda não peguei para ler.
    Acredito que sempre é importante ter obras que consigam transmitir realidades que muita gente deixa de ver por estar em sua zona de conforto.
    Gostei muito da sua resenha e do estilo da autora.

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  10. Oi Ivy!!

    Menina eu ainda não li nada da Angie!! Mas estou muito ansioso para ler, eu estou para ler O Ódio que Você Semeia, tenho o livro em minha estante a um tempo e não li ainda, mas, pretendo fazer isso em breve. Fico feliz que você tenha gostado do livro, porque eu também quero ler esse livro da autora!!

    Beijos!
    Eita Já Li

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  11. Olá, tudo bem? Os livros dessa autora parecem ser muito bons, pois sempre vejo falarem muito bem. Adorei tua resenha e minha curiosidade de ler esse livro só aumentou!

    Beijos,
    Duas Livreiras

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  12. Oii!

    Essa é uma autora que está na minha listinha de próximas leituras, não sabia que ela construia tao bem os enredos. fiquei apaixonada só de ler sua resenha!
    Gostei bastande conhecer a história atraves do seu olhar!

    Beijinhos,
    Ani
    www.entrechocolatesemusicas.com.br

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  13. Olá Ivy, tudo bem? Eu li "O ódio que você semeia" e fiquei completamente apaixonada pelo livro, foi publicado no momento certo e fala de coisa que a comunidade negra vive no dia-a-dia, seja nos EUA no Brasil ou em outro país do mundo, os negros sempre são hostilizados. Quanto a esse segundo livro eu ainda não li mas, posso dizer pela sua resenha que as semelhaças com a primeira história iriam me incomodar um pouco, não gosto de livros com história semelhantes porque, os finais são muito previsiveis e prefiro se surpreendida por ele. Gostei de ler sua opinião e espero que a autora publique outras obras em breve!

    Viviane Almeida
    Resenhas da Viviane

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  14. Oi Ivy.

    Eu ainda não tive a chance de conhecer a escrita da autora, mas pela sua resenha e outras que já li parece ser uma leitura tocante e viciante. Já adicionei autora na minha listinha. Parabéns pela resenha.

    Bjos

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  15. Olá, tudo bem? Até hoje puxo minha própria orelha porque não li ainda nada da autora, mas só vejo por ai elogios e mais elogios para suas obras. Seu trabalho em olhar pormenores às vezes não notados por todos com certeza é um fundamental,l e junto de uma escrita maravilhosa deve surpreender. Espero em breve poder mudar esse status de não lido. Adorei a resenha!
    Beijos

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  16. Resenha mais que perfeita, daquelas que não conseguimos parar de ler. Parabéns pelo texto maravilhoso. Ainda não li nada da autora mas sempre escuto elogios como o seu. Fiquei muito curiosa, mas confesso que irei ver o filme do primeiro livro antes de ler, não costumo fazer isso mas nessa correria e dvd minha enorme pilha de não lidos não tenho como ler esses livros agora, mas no futuro quem sabe. Amei conhecer mais do enredo do segundo livro. Valeu pela dica.

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  17. Oi!
    Fiquei curiosa com o enredo, parece ser uma história bem original e real. Adorei sua resenha, fiquei intrigada para saber o que acontece no decorrer da trama e como se desenrola no aspecto familiar dos personagens, com erros e acertos não tem nada previsível acho que isso chama atenção por serem tão humanos. Obrigado pela dica, bjs!

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  18. Oi, tudo bem?
    Estou com esse livro aqui desde o ano passado, mas ainda não li. Eu também amei O ódio que você semeia, mas vi alguns comentários que Na hora da virada é inferior e fiquei morrendo de medo de me decepcionar. Mas vendo seus comentários, acho que irei amar essa leitura. Gostei de saber que novamente a família não ficará em segundo plano, pois amei a família da Starr em O ódio que você semeia.
    Adorei ler sua resenha e fiquei bem mais empolgada para conferir esse livro. Vou tentar ler em breve!
    Beijos!

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  19. Eu estou louca para ler esse livro, sei que vai ser uma leitura muito boa para mim e que vai me trazer muitas mensagens importantes. Quero ler esse ano ainda!

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  20. Eu ainda não li esse livro da Angie, mas já sei que vou gostar tanto quanto do primeiro, porque ela é incrível e coloca uma verdade na escrita dela, que chega a ser meio dolorosa. Amei demais resenha!

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  21. Oi Ivy, tudo bem?
    Angie Thomas está de volta, amigos, e ao que parece, indiretamente está contando sua própria história nesse livro novo. Porque honestamente, foi isso que eu enxerguei bem forte enquanto lia a resenha. Claro que, como não li e pouco conheço a biografia dela, não tenho como saber o quanto ela colocou da própria história nisso, mas dá a impressão que foi um bocado.
    Um beijo de fogo e gelo da Lady Trotsky...
    http://www.osvampirosportenhos.com.br

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  22. Ta aí uma autora que eu preciso e quero muito ler. Saber que esse livro é tão bom quanto o primeiro, me deixa feliz e empolgada!!! :) Amei ler a sua resenha e a seleção de fotos!

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