(Review 278) - Filhos de Sangue e Osso (O Legado de Orïsha #1) - De repente, no último livro

1 de mayo de 2019

(Review 278) - Filhos de Sangue e Osso (O Legado de Orïsha #1)

Título original: Children of Blood and Bone (USA) / Hijos de Sangre y Hueso (Espanha)
Autor: Tomi Adeyemi
Editora: Fantástica Rocco (Brasil) / Henry Holt Books for Young Readers (USA) / Molino (Espanha) 
Páginas: 540
Ano de Publicação: 2018 (EUA) / 2018 (Brasil)
Gênero: Fantasia Juvenil
Saga: O Legado de Orïsha (Legacy of Orïsha)
1. Filhos de Sangue e Osso (Children of Blood and Bone) 
2. Children of Virtue and Vengeance 
3. Sem Título 
Valoração: 

A mitologia iorubá é o fio condutor de Filhos de Sangue e Osso, que marca a estréia de Tomi Adeyemi na literatura. Graduada em literatura inglesa em Harvard, a jovem escritora norte-americana de origem nigeriana recebeu uma bolsa para estudar cultura africana em Salvador, na Bahia, onde se inspirou a criar um universo de fantasia onde a magia dos orixás corre o risco de se perder para sempre. O livro abre a trilogia O Legado de Orïsha e conta a história de Zélie, uma jovem disposta a lutar contra a opressão sofrida por seu povo. Considerado um dos grandes lançamentos do ano nos Estados Unidos, Filhos de Sangue e Osso ocupa as principais posições do ranking dos mais vendidos do The New York Times desde o lançamento, e já chega ao mercado com adaptação negociada ao cinema pela Fox e publicação em mais de 15 países. 

Minha opinião:


Pensa num livro maravilhoso, que termina deixando o leitor mega ansioso pela continuação e que apresenta em detalhes uma cultura exótica e pouco explorada na literatura? Pois este é Filhos de Sangue e Osso
Filhos de Sangue e Osso foi como um sopro de ar fresco em um gênero que se torna sempre repetitivo. Tomi Adeyemi explorou à fundo para trazer ao leitor uma história nova, viciante, original e envolvente. São tantas coisas boas que encontrei nesse livro que fica difícil até enumerar um à um dos motivos de porque você também, meu caro leitor, deve ler Filhos de Sangue e Osso

Pra começar, a história se apresenta intercalada entre três narradores distintos, tudo na primeira pessoa, o que envolve o leitor em todos os aspectos, nos permitindo ter uma visão bem ampla de tudo o que ocorre, já que as duas protagonistas, Zelie e Amari, lutam juntas contra o terceiro narrador, o príncipe Inan
Zelie Adebola é uma adolescente que já viu muita coisa, aprendeu a lidar com a rejeição e a perseguição implacável tudo isso porque em suas veias corre sangue maji. Ela é descendente daqueles que foram um dia uma raça poderosa, e os cabelos brancos da garota são a marca registrada do sinal de magia que está em seu sangue. Os outros como ela, todos eles, são caçados e exterminados sem misericórdia pelo rei Saran, ele odeia a magia e todos que a possuem são considerados uma ameaça ao reino de Orïsha. Ele conta com a lealdade inabalável de seu filho, o príncipe Inan para levar a cabo as missões de perseguir e trazer "ordem" ao império.
Quando a filha do rei, a princesa Amari, escapa roubando consigo um pergaminho mágico que pode retornar aos maji a fonte de sua magia, seus caminhos se cruzam com os de Zelie. Quando a magia retorna à Zelie, ela se torna a chave que pode liberar o poder à todos os outros maji, e juntas, ela e Amari, deverão vencer todos os obstáculos para se salvar, salvar o reino e aqueles que amam. 

A sinopse talvez se pareça com várias outras fantasias que a gente lê. A princesa, a guerreira, e os aliados leais que se unem à elas na jornada. Mas não se baseie nisso quando se trata de Filhos de Sangue e Osso. Esse livro superou minhas expectativas e é mais, muito mais, do que poderia sequer supor. 
Temos aqui retratada a cultura africana em sua forma mais mágica, mística e envolvente. A história é ambientada em um cenário tão real e desconhecido que o leitor se envolve por completo, dá pra sentir aquele lugar tão incomum penetrando na mente da gente. Eu conseguia sentir o desespero de Zelie, a angustia de Amari, a fúria de Inan, a valentia de Tzai, os sentimentos e emoções são tão fielmente descritos que se tornam palpáveis. É tudo real, brutal e intenso, em uma narrativa vibrante que não dá trégua. A história começa já em um ritmo forte, nos apresentando os personagens cheios de dúvidas e inseguranças, com destinos incertos, cujos caminhos se entrelaçam.
A trama é uma verdadeira jornada, a escrita de Tomi Adeyemi vai se tornando cada vez mais grandiosa à medida que as páginas avançam e é animador acompanhar a evolução e conflitos que atravessam seus personagens.

Zelie foi uma protagonista maravilhosa. Ela é determinada, mas também muito falha e isso faz o leitor se apegar à ela, essa teimosia e imperfeição que a seguem. Embora o romance que envolve Zelie não me convenceu, achei sem graça e precipitado, em linhas gerais foi uma personagem que gostei bastante de conhecer, pois apesar de todos os traumas e dores que passou ela segue acreditando, ela tenta defender aos que ama mesmo sendo falha, e é muito direta, honesta e leal.
Porém, se há alguém que evolui absurdamente e acabou me conquistando em cheio essa foi Amari, a segunda protagonista, a personagem que começa como a princesa rica e submissa que um dia, após presenciar a morte de sua melhor amiga, toma as rédeas, rouba um pergaminho mágico e foge. Ela se une aos maji, e aos poucos deixa de ser a garota mais frágil para tornar-se uma força da natureza. Eu adorei as reviravoltas pelas quais Amari passa, certamente Amari é um personagem que tem tudo pra ser o ponto forte da segunda parte. Também há um romance envolvendo Amari e achei que este foi mais sutil, melhor trabalhado, mais pausado e por conta disso, sinto ter desfrutado mais, embora, nenhum dos dois romances da trama conseguiu ter força suficiente pra alcançar destaque.

Na verdade, Filhos de Sangue e Osso é aquele tipo de história tão épica, rica e mágica que não havia sequer a necessidade de romances. Havia tanto para se contar, muito pra expor ao leitor, e isso tornou o romance na trama em um detalhe secundário e até mesmo morno.

A maneira apaixonante como Tomi Adeyemi retrata a cultura africana, o povo e lendas me fisgou em cheio. Eu podia fechar os olhos e ver aquelas mulheres negras e lindas com suas vestes coloridas caminhando adiante, em uma história de fantasia que nos choca ao se mesclar com toques de realismo, apresentando momentos de pura magia que se misturam à episódios de perseguição, opressão e intolerância.

Eu achei esse livro tão completo em todos os sentidos. Ele tem uma parte mágica consistente e inovadora, mas a autora também conseguiu transpor sentimentos comuns à seus personagens, que permitissem ao leitor se identificar, se apegar e entender melhor as mentes dos três narradores, além de outros que vão aparecendo ao longo da narrativa.

Tomi foi extremamente corajosa nesse primeiro livro. Ela não tem medo de destruir e desconstruir personagens, além de mudar os rumos da história até o ponto de nos apertar o coração. A autora se arrisca, cria e transforma sua trama em cada capítulo, conduzindo à um desfecho épico e bem trabalhado, digno de um livro que se manteve genial desde o início até o final.

Concluindo...

Filhos de Sangue e Osso foi uma leitura épica, que me deixou sem palavras, tanto pela narrativa brilhante e envolvente de sua autora, como também pelos personagens, mitos e cenários inusitados apresentados ao longo das páginas. Embora seja um livro grosso, seus capítulos curtos permitem que o leitor leia rapidamente, e as muitas reviravoltas da trama me mantiveram completamente imersa, encantada pelo universo de Zelie e Amari e pelos possíveis desfechos que Adeyemi trará à cada um de seus personagens nos próximos livros da trilogia.

"- Pode se enganar o quanto quiser, principezinho, mas não finja inocência comigo. Não vou deixar seu pai ficar impune com o que fez. Não vou deixar sua ignorância silenciar minha dor".


"- Sei que vocês estão com medo. - Todos se voltam para mim. - Também estou. Mas sei que a razão para lutar é mais forte que o medo, porque trouxe vocês até aqui. Cada um de nós foi abusado pelos guardas, por essa monarquia que jurou nos proteger. Hoje vamos revidar por todos nós. Hoje vamos fazer eles pagarem!"

Tomi Adeyemi é uma autora nigeriana-americana e coach de escrita criativa que vive em San Diego, Califórnia. Depois de se graduar com honras em Literatura de Língua Inglesa pela Universidade de Harvard, estudou mitologia, religião e cultura africana em Salvador, no Brasil. Quando não está trabalhando nos seus romances ou vendo videoclipes da banda BTS, pode ser encontrada postando sobre escrita criativa em seu site. 

Web Page Oficial: http://www.tomiadeyemi.com/

Twitter: Tomi Adeyemi



Até a próxima, 



Ivy

16 comentarios:

  1. Olá
    Gostei muito da capa e da sinopse, não conhecia esse livro e gostei bastante da sua resenha.
    Parabéns
    Beijinhos
    Renata
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  2. Oi
    quase não vejo falarem desse livro, que bom que gostou da leitura e que achou o diferencial da históriaria a respeito de livros desse gênero, parece se uma história daquelas que só conseguimos parar quando estamos na última página.

    http://momentocrivelli.blogspot.com

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  3. Gente, que diferente!
    E muito bacana que a autora passou um tempo aqui no Brasil para se aprofundar no tema.
    Achei a capa linda!
    Que bom que gostou e achei uma viagem épica da literatura.

    Beijoooos

    www.casosacasoselivros.com

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  4. Oi Ivy! Eu comentei lá no IG o quanto acho maravilhosas histórias que abordam culturas diferentes daquelas a que estamos acostumados, é sempre engrandecer! Eu não lembro de ter lido algum livro sobre a cultura africana e me empolguei com esse livro. Além disso, saber que tem um romance, mesmo que não fosse necessário ou tenha se desenvolvido sem emoção, me deixa ainda mais interessada, porque afinal eu adoro um romance.
    Beijos, Adri
    Espiral de Livros

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  5. Oi, Ivy!
    Menina, olha... tomei um rancinho da autora desde o lance dela acusar a Nora Roberts de plágio. Por tabela o livro sofre também, mas estou fazendo um esforço para que futuramente ele vá embora e eu possa aproveitar a história.
    Beijos
    Balaio de Babados

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  6. Oi, Ivy! Tudo bom?
    Eu ameeeeeeeeei esse livro mas também tive umas ressalvas com ele. Principalmente em relação ao Inan, ô RANÇO que eu peguei desse embuste literário que só por deus. A Zelie era ótima quando não tinha macho envolvido no assunto, daí virava um capacho emocional que socorro.
    Amari muito minha rainhazinha favorita dona do mundo <3

    Beijos,
    Denise Flaibam.
    www.queriaestarlendo.com.br

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  7. Oi Ivy,
    Estou muiiito curiosa pra ler esse livro, pois QUE CAPA É ESSA?
    Me deixou apaixonada de cara, e conhecer a história melhor só me fez querer tê-lo na minha estante ainda mais.
    Sempre dá aquele choque né? A gente se pergunta porque não temos mais histórias assim, enaltecendo outras culturas e que isso que é o fantástico da literatura, a gente viajar por vários costumes e não ficar na mesmice.

    até mais,
    Canto Cultzíneo

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  8. Oi Ivy, tudo bem?
    Amei a resenha, amei a foto, amei tudo!
    Quando o livro saiu, eu não estava muito na vibe das fantasias, sabe? Minha fase tava total thriller. Hoje, porém, estou cada vez mais curiosa! Se surgir a oportunidade, com certeza vou ler!
    Beijos,

    Priih
    Infinitas Vidas

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  9. Oi, tudo bem?

    Eu estou vendo todo mundo falar desse livro e a cada nova análise sobre esse livro fico pensando MEU DEUS, EU PRECISO DESSE LIVRO! Ótimo post!!!

    Beijos,
    Blog Diversamente

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  10. Que resenha hein Ivy?! Consegui sentir a sua paixão pela obra e a sua resenha foi a primeira que me deixou com vontade de pegar esse livro da estante e começar a leitura imediatamente! Sinceramente, espero gostar tanto quanto você gostou da obra. Adoro literatura fantástica e mundos ''novos''.

    Beijos,
    Andy StarBooks

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  11. Oi, tudo bem? Que resenha mais completa. Tantos detalhes, tantas características, tanta riqueza. E essa capa? Simplesmente incrível. Vi a editora divulgando o lançamento mas não prestei atenção qual era o tema. Essa questão de estudar outras culturas é muito enriquecedora. Se não for dessa forma muito conhecimento pode ser esquecido semelhante aos maias. Fiquei curiosa para saber mais sobre os personagens. Dica anotada. Beijos, Érika =^.^=

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  12. Oiii, tudo bem?

    Achei a premissa do livro bem interessante, acho que nunca li um livro que explorasse essa cultura, só por aqui eu já fiquei bem curiosa com a leitura. Gostei bastante de saber que mesmo com toda a parte mágica consistente e inovadora a autora conseguiu transmitir sentimentos comuns aos personagens, isso faz com que a gente se sinta mais próximo a eles.
    Gente, e que capa mais maravilhosa é essa?!! Já coloquei na minha lista de desejados. Obrigada por compartilhar!!

    Beijinhos!!

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  13. Olá, adorei sua resenha, já tinha visto uma publicação sobre a obra, confesso que pelo título já me chamou atenção, uma leitura com abordagem diferenciada sem dúvida, fiquei muito empolgada para ler!

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  14. Estou apaixonada por sua resenha que me apresentou esta beleza de livro. Eu não o conhecia e fiquei muito animada para ler, não tem como eu não me apaixonar por uma trama épica, rica e mágica. Dica anotada.

    Bjo
    Tânia Bueno

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  15. Eu vi a sua resenha lá no IG e fiquei morrendo de curiosidade para ler o livro, vendo a sua opinião completa aqui eu fiquei ainda mais. Acho a capa dele maravilhosa e a premissa me atrai completamente, eu tenho certeza de que se eu for ler eu vou me encantar e ficar louca para ler os próximos volumes.

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  16. 'cultura exótica e pouco explorada na literatura' não é bem assim, ela, a produção literária, não tem espaço midiático, ela, a cultura, também não é exótica e representa muito do que somo enquanto brasileiros. Agora, concordo com você sobre o livro ser extraordinário e melhor, voltado ao público jovem. O último livro que tive acesso sobre a temática foi: Yorubá: Vocabulário Temático do Candomblé

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