(Review 244) - Nas sombras do Estado Islâmico: Confissões de uma arrependida - De repente, no último livro

30 de septiembre de 2018

(Review 244) - Nas sombras do Estado Islâmico: Confissões de uma arrependida

Título original: Dans la nuit de Daech
Autor: Sophie Kasiki
Editora: Robert Laffont (França) / Best Seller (Brasil)
Páginas: 160
Gênero: Narrativa / Autobiografia
Goodreads / Amazon / Skoob / Saraiva

Nas Sombras do Estado IslâmicoO testemunho extraordinário da mulher francesa que se juntou ao Estado Islâmico e conseguiu sobreviver a uma jornada pelo inferno. Sophie Kasiki trabalhava como assistente social nos subúrbios de Paris quando três jovens que auxiliava abandonaram a França para se juntar ao Estado Islâmico, na Síria. Em pouco tempo, aqueles que ela carinhosamente chamava de "os meninos" voltariam a procurá-la. A princípio, Sophie ingenuamente esperava convencê-los a voltar, mas o que aconteceria seria exatamente o oposto. Em Nas sombras do Estado Islâmico, Sophie Kasiki relata, de forma muito emocionante, todo o terror que passou na cidade de Raqqa, coração do Estado Islâmico na Síria. 

Resenha:   


Nas sombras do Estado Islâmico é um relato de 200 páginas escrito pela congolesa naturalizada francesa Sophie Kasiki (nome ficticio), uma jovem mãe que decidiu abandonar seu emprego, seu marido e sua vida estável na França para fugir com seu filhinho de 4 anos para a zona de guerra na Síria, mais precisamente para a cidade de Raqqa, lugar que, naquele momento, ainda era a capital do califado do temido Estado Islâmico. (Raqqa foi finalmente liberada no ano de 2017 pelas forças curdas e cristãos assírios, que lutam sob a bandeira do SDF - Syrian Democratic Forces e da YPG). 
Nestas poucas páginas Sophie conta ao leitor seu martírio vivendo em território jihadista e sua luta em retornar para casa.
A autora passou por várias coisas nos 2 meses em que esteve em Raqqa. Ela trabalhou em uma maternidade pertencente ao ISIS que classificou como "uma desumana fábrica de bebês sem higiene", foi forçada a viver na Madafa, que é uma instituição para jovens solteiras, onde teve que dividir espaço com outras jovens provenientes de diversos países e teve que lidar com a descoberta de que, aqueles que acreditou serem seus amigos, poderiam facilmente ser capazes de matá-la, bastasse com que ela fosse considerada "infiel" para os rígidos padrões adotados pelos terroristas. 

Eu tive sentimentos mistos com esse livro. Por um lado achei interessante o relato de Sophie, ela aborda uma realidade que não foi muito exposta na mídia, como a existência da Madafa, um lugar que ela chama de "canil de mulheres", montado pelo ISIS para abrigar as viúvas, divorciadas, as que esperam o marido voltar do campo de batalha ou simplesmente, as rebeldes que precisam de correção e vigilância por serem consideradas desleais. 
Por mais novas que essas informações sejam, há um outro lado do livro que me deixou desconfortável. Eu não senti 100% de honestidade em Sophie. Me desculpe quem leu e apoiou a autora, ou mesmo se sensibilizou com seu "erro". Eu não consegui ter pena ou me sensibilizar de sua situação, e achei absurdas as justificativas dadas por Sophie para unir-se ao ISIS. Para mim, suas justificativas demonstram que ela não admite ainda sua própria culpa e quando narra sua história quer apenas justificar-se, como se o leitor tivesse que entender sim ou sim as razões ridículas e egoístas que a levaram até a Síria.

A minha sensação foi a de que a autora passa a maior parte do livro apenas tentando convencer o leitor de uma inocência surreal, tentando mostrar que o mundo estava todo errado, ela não e por causa de sua visão "esperançosa" acabou fugindo.
Há um momento em que ela inclusive culpa o governo francês, diz que não recebia apoio do governo para os seus projetos numa casa cultural onde trabalhava e essa falta de apoio a desmotivava, o suficiente para fugir para a Síria e juntar-se à Jihad Islâmica. Imagina se nós, brasileiros, fossêmos fugir para a Síria cada vez que nos sentimos lesados pelo governo? Ia ter super população por lá já que todo brasileiro já se sentiu no mínimo uma vez na vida literalmente roubado por nossos governantes, né?

Enfim, na minha opinião se trata de uma história verdadeira, mas que foi narrada de uma maneira que buscava inocentar a autora de todas as acusações que enfrenta. Comigo o relato não funcionou e acredito que teria tido mais simpatia por Sophie se ela simplesmente admitisse o que fez e pronto, se arrependesse e pedisse desculpas. Sem tentar apontar para tantos outros "culpados" quando a verdade é que foi uma decisão egoísta dela mesma e somente dela.

É o tipo do livro que recomendo ao leitor ler mas com ressalvas. Leiam para entender a realidade que ocorreu em Raqqa, a título de curiosidade sobre as instituções bizarras criadas pelo ISIS. Mas eu aconselho a não tomar as opiniões pessoais da autora sobre ela mesma com muito afinco. Há várias informações que se contradizem no que diz respeito à sua própria estadia no lugar. Eu simplesmente acho estranho que 3 rapazes te convençam a fugir para a Síria e te coloquem em um amplo apartamento por 2 meses sem pedir ou exigir nada em troca, quando qualquer pesquisa mais profunda na net, em outros testemunhos, nos faz saber que tudo o que o ISIS fazia era em troca de algo. E se uma mulher sozinha estava lá, não era exatamente pra olhar o sol na janela e comer sopa no fim da tarde, certamente, haviam planos para ela, e me custa crer que a autora não tenha deduzido isso em nenhum momento.
A impressão que me dá é que a autora omite alguns fatos com relação à si mesma e a sua estadia. Talvez seja para resguardar seu filho, talvez seja para resguardar seu casamento (já que o marido a aceitou de volta acreditem ou não), talvez seja por vergonha... Mas o fato é que eu não compro essa história de que Sophie ficou 2 meses lá sem fazer nada, vivendo de graça e sem saber exatamente o que estava acontecendo (porque ela diz que não sabia um montão das coisas que o ISIS fazia, embora o mundo inteiro estivesse falando no assunto).

Ou seja, em todo o momento há uma vitimização enorme, e em quase nenhum parágrafo um verdadeiro arrependimento ou pelo menos algumas poucas palavras que indicassem que a autora tenha enxergado o quanto contribuíu para sua própria ruína. E eu achei isso bem triste, porque com todos os erros que Sophie cometeu, sua atitude egoísta arriscando o futuro do próprio filho, ela deveria no mínimo reconhecer sua parcela de culpa, e não vi isso no livro em praticamente nenhum momento.

Enfim, como disse, pra mim a autora é sincera quando nos relata a vida em Raqqa, as instituições do ISIS, a maneira como várias pessoas ao redor pensavam e agiam, a resistência secreta que começava a se formar ali. Isso é o interessante do livro e a parte que me faz recomendar a leitura à todos. A chance de entender esse universo maluco criado por esses terroristas e como isso afetou a vida (e o futuro) de milhares de pessoas é um tema importante e necessário. Por outro lado, no que se refere às motivações pessoais da autora, aconselho o leitor à não dar crédito completo às suas justificativas, pois se analisamos friamente encontramos tantas incoerências em seus motivos pessoais, que, como disse, fica difícil simpatizar ou sensibilizar-se por Sophie Kasiki (ou seja lá qual for seu nome).

Sophie Kasiki, nascida em 1981 em Kinshasa, Congo, é o pseudônimo da autora radicada francesa que escreveu o relato biográfico "Nas sombras do Estado Islâmico" (Dans la nuit de Daech). No livro ela conta sua experiência após se converter ao Islã e, posteriormente, ser recrutada por três homens do ISIS, que a convenceram a abandonar seu marido na França e fugir com seu filho de 4 anos para a Síria. 
Kasiki decidiu usar um pseudônimo para evitar retaliações por parte do ISIS e seus seguidores anônimos. Ela foi fotografa apenas nas sombras ou mostrando parte de seu perfil, nunca o rosto inteiro. Ainda hoje responde por processos referentes à "subtração de incapaz". 



Até a próxima, 



Ivy

11 comentarios:

  1. Oie
    Não conhecia este livro e acho que nunca li nada com este tema, achei interessante, mas não faz meu estilo de leitura. Gostei muito de suas ressalvas.

    Beijinhos
    https://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com

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  2. Não sabia desse livro e gosto super de ler sobre temas assim! Já salvei aqui pra dar uma olhada depois, livros assim só mostram o quanto a gente deve entender o mundo e lutar por melhoras :(

    Beijos
    Próxima Primavera

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  3. Oi, Ivy
    Eu fiquei sem entender porque diabos uma mulher desiste de tudo, sua liberdade e família pra ir fazer uma coisa dessas. Acho que eu não entenderia e possivelmente não gostaria do livro pelos mesmos motivos que você. Quando vejo algo assim fico até assustada com tanta coisa, é absurdo!
    Beijo
    http://www.capitulotreze.com.br/

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  4. Oi, Ivy
    Eu fiquei sem entender porque diabos uma mulher desiste de tudo, sua liberdade e família pra ir fazer uma coisa dessas. Acho que eu não entenderia e possivelmente não gostaria do livro pelos mesmos motivos que você. Quando vejo algo assim fico até assustada com tanta coisa, é absurdo!
    Beijo
    http://www.capitulotreze.com.br/

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  5. Oi Ivy, nossa adorei esse título e essa capa, fiquei com vontade de ler só por isso, algo me atrai nessa temática.
    Menina, ler sua resenha me trouxe outra visão, este lugar seria o último que eu iria pensar para fugir, nunca na vida, eu acho..
    Porém, mesmo com sua nota e sua resenha, eu fiquei muito curiosa!

    Beijos Mila
    http://dailyofbooks.blogspot.com/

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  6. Oi Ivy, eu nunca li um livro que fala sobre o Estado Islâmico, mas tenho interesse em conhecer um pouco mais sobre a guerra na Síria. Não sou leitora de biografias, as poucas que tentei ler acabei abandonando, acho que ficaria frustrada se conseguisse fazer essa leitura e não sentisse total veracidade e intenções do/a autor/a nos motivos da história e sobre a história. Enfim, achei interessante, vou deixar a dica anotada, mas com a observação sobre as suas ressalvas.
    Beijos
    http://espiraldelivros.blogspot.com/

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  7. Oi, ivy!
    Acho esses temas bacanas e que valem a leitura, mas ao mesmo tempo não consigo ler, sabe? Ainda mais vendo a sua ressalva sobre a veracidade da história contada. Vou deixar esse passar, quem sabe em uma outra época da vida?
    Beijinhos,

    Galáxia dos Desejos

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  8. Gostei da resenha Ivy. Curto essas biografias que se passam em meio a guerras e conflitos, pois sinto que elas sempre têm algo para acrescentar em nossas vidas. No entanto, essa narrativa vitimizada também iria me irritar. Beijo!

    www.newsnessa.com

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  9. Olá, Ivy.
    Eu até pensei que tinha lido errado lá no começo. Como assim todo mundo fugindo do lugar e é para lá que ela vai e ainda leva uma criança de quatro anos junto. Acho que já começaria a leitura com raiva dela e também esperaria uma admissão de culpa, o que não acontecesse e por esse motivo eu não leria o livro.

    Prefácio

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  10. Oi, Ivy!
    Menina do céu, que mulher louca! Vai sozinha, mas deixa teu filho em segurança... Eu não iria conseguir ser parcial com esse livro; julgaria horrores as atitudes dela.
    Beijos
    Balaio de Babados

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  11. Oi Ivy! Não é o tipo de livro que eu costumo ler e também essa mulher bem louca em suas atitudes iria me deixar nervosa. No momento não entra na minha lista. Bjos!! Cida
    Moonlight Books

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